Uma coisa que poucos sabem aqui no Brasil é que existe uma modalidade de tratamento para cranioestenose que é minimamente invasiva, através do uso de endoscópio para remover a sutura sagital que está fusionada precocemente, eu vou falar mais sobre o que isso significa.
Primeiro eu gostaria de definir o que é escafocefalia de uma forma simples. Escafocefalia ocorre quando há fechamento prematuro da sutura sagital, que é uma sutura impar que temos entre os ossos parietais. Essa sutura normalmente se fecha entre os 16-18 anos de idade, logo se essa sutura se fecha logo ao nascimento ou já nasce fechada, ocasiona o crescimento do crânio no sentido antero-posterior, pois de acordo com a Lei de Virchow quando temos uma sutura “estenosada” o crescimento do crânio perpendicular aquele sutura fica bloqueado, mas como o cérebro precisa crescer e se desenvolver, esse crescimento ocorre causando uma deformação do crânio.
No caso da escafocefalia é possível então perceber um crânio mais alongado no sentido antero-posterior, a testa fica muito proeminente, e a parte occipital fica mais fina, alguns referem que o formato da cabeça fica parecida com o de uma bola de futebol americano. Além disso, é possível perceber uma proeminência óssea na linha media no ponto de união entre os ossos parietais.
A única forma de tratamento da escafocefalia é a cirurgia e por muitos anos acreditou-se que a única forma de tratamento era uma cirurgia conhecida como reconstrução ou remodelamento craniano, que é uma cirurgia aberta com incisão de mastoide a mastoide, ampla exposição de toda sutura e calvária craniana, e dessa forma pode-se não só retirar a sutura mas existem diversas técnicas diferente de remodelamento, mas todas elas envolvem retirada de uma ampla área de osso. Devido a extensão da cirurgia, esses bebês recebem transfusão sanguínea em quase 100% das cirurgias, precisam fazer pós-operatório em UTI pediátrica e ficam internados por volta de 3-4 dias no hospital.
Há mais de 20 anos um neurocirurgião chamado David Jimenez mudou a abordagem dessa cirurgia com uso do endoscópio. Ele percebeu que era possível trocar uma incisão de lado-a-lado por duas pequenas incisões de aproximadamente 2,5 cm logo em cima da sutura sagital, uma mais anterior perto da sutura coronal e outra mais posterior perto da sutura lambdoide. Com o auxilio da iluminação e visualização do endoscópio é possível remover um tira de osso (strip) incluindo a sutura sagital estenosada. Em geral, não há perda sanguínea significante, o paciente pode pernoitar na UTI pediátrica ou no apartamento e receber alta no dia seguinte da cirurgia. Outra diferença importante é que esses bebês após a cirurgia endoscópica precisam usar capacetes para ajudar a moldar o crescimento do crânio. O capacete “fixa” o crescimento no sentido antero-posterior e permite o crescimento do crânio no sentido latero-lateral, fazendo o crânio assumir um formato normal ao longo do primeiro ano de vida. Outra diferença muito importante em relação a técnica endoscópica é a idade que os pacientes são elegíveis para cirurgia, a idade ideal para ser submetido a essa cirurgia e por volta dos 3-4 meses de vida.
Seguindo essa tendência hoje, nos Estados Unidos existem pelo menos 10 hospitais que oferecem o tratamento endoscópico para cranioestenoses, todos eles filiados as universidades renomadas, dentre eles El Paso Childrens Hospital (Texas), Nationwide Childrens Hospital (Ohio), Cincinnati Childrens Hospital (Ohio), Mayo Clinic Children's Center, Seattle Childrens Hospital (Washington), Childrens Hospital Los Angeles (California), St. Louis Childrens Hospital (Missouri), Rady Childrens Hospital (San Diego California), Johns Hopkins Childrens Center (Mayland) e Boston Childrens Hospital (Massachusetts), sendo esse último hospital pediátrico afiliado a Faculdade de Medicina de Harvard.
Posso dizer que para aprender os detalhes da técnica e poder desenvolvê-la aqui no Brasil passei um período com Dr. Mark Proctor no Boston Children’s Hospital observando dezenas de procedimentos e avaliações pós-operatórias e pude perceber que de fato a cirurgia é muito efetiva e que o procedimento só pode ser executado por quem pode vivenciar os detalhes da técnica. Então, se você é médico e suspeita que seu paciente tem um formato de crânio não usual ou se você é mãe ou pai e seu filho (a) recebeu o diagnóstico de escafocefalia, procure informações, leia, e procure um neurocirurgião experiente em cranioestenoses, infelizmente o tempo é um fator limitante na escolha da técnica mas para todos os casos existe uma boa solução, que permite o crescimento livre do cérebro uma correção do formato craniano.
Dr. Marcos Devanir Silva da Costa
Professor Afiliado do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia
Escola Paulista de Medicina - UNIFESP
Pós-Doutorado, Doutorado e Mestrado pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
Membro Ativo da Sociedade Brasileira de Neurocirugia Pediátrica
Membro Internacional do Congress of Neurological Surgeons
Membro da International Society for Pediatric Neurosurgery
Contato Consultório 11-9956285666 ou (11) 4933-8077
Rua Domingos de Morais, 2187 - 3o andar conjuntos 310/311
Bloco B- Xangai, Vila Mariana - São Paulo - SP - CEP 04035-000
Comments